Estava refletindo essa semana sobre a semelhança ou mesmo pontos em comum entre a Ontologia e a Mediação de Conflito. Como técnicas distintas como estas podem ter tanta similaridade?
Antes de explicar a relação entre ambos, falarei isoladamente de cada um e de suas belezas. Como deve imaginar, sou apaixonada por ambas as ferramentas, pela forma que elas ajudam e facilitam o processo de transformação, independentemente do caminhar ser individual ou coletivo. Vamos lá então?
Através do Coaching Ontológico, trabalho o ser humano no mundo, onde ele está, como se percebe, sua história, seus desafios e sonhos, suas forças e pontos que precisam ser desenvolvidos e transformados. Observo, também, como ele enxerga e se relaciona com as pessoas e com o mundo externo, em todas as expressões que aparecem durante o processo.
Entendo que, cada um de nós enxerga o mundo e o que nos cerca, a partir de uma óptica única. Óptica essa, que está relacionada com o que aprendemos na vida, com toda a bagagem que carregamos - seja ela educacional, social, religiosa ou não, experiências pessoais e familiares -, dentre outras.
Costumo brincar que se mostrarmos uma montanha para duas ou mais pessoas, esta montanha será vista e descrita, por cada um deles, de uma forma única. Isso porque, o indivíduo ao enxergá-la, usará todo o seu repertório pessoal (composto de suas próprias histórias, vivências e experiências) para traduzi-la.
No processo de coaching, quando ajudo uma pessoa a superar e transpor um desafio, esta experiência está diretamente relacionada com trabalhar a forma como esta pessoa enxerga e se relaciona com o mundo. Quando meu coachee muda, tudo ao seu redor também muda – a forma como se relaciona, percebe, interage e descobre tudo que o cerca.
Na Mediação de Conflitos, por sua vez, trabalho na construção de uma ponte. Dois seres humanos que enxergam o mundo, cada um de uma forma, com toda sua bagagem por trás, e que diante de um conflito, um impasse, uma conversa difícil, repleta d dores e emoções desafiadoras, se agarram a tudo o que existe de mais forte dentro de si mesmos: suas convicções. E, utilizam destas convicções para “defender” aquilo que acreditam e lutam para mantê-lo
Neste momento, o mediador funciona como um intermediador, facilitando uma comunicação eficaz e efetiva para que, assim, ambos os lados possam se abrir para escutar uns aos outros. Com este espaço facilitado, ocorrerá a compreensão das diferentes perspectivas, a verdadeira escuta, e, como consequência, o encontro de um caminho comum para ambos. Assim nasce uma terceira via que cuida para acolher, dar voz e incluir, na medida do possível, ambos os lados.
Todavia, o que existe de comum em ambas as experiências descritas? Dentre alguns aspectos, o ponto comum que também representa uma das maiores ferramentas existentes em nossos tempos - e que quando aplicada, vejo que faz verdadeiras mudanças nas relações e formas de viver –, é a escuta. Na verdade, a escuta é uma habilidade/virtude que sempre esteve disponível para nós humanos, mas que socialmente, não era tão praticada. Sinto que, o ato de escutar ainda carece de muitas melhorias, contudo essa é uma conversa para outro dia.
Em ambos os casos, quando abro, sustento, provoco e acompanho espaços de escuta, para que todos os envolvidos possam ter voz, serem ouvidos, se sentirem honrados e vistos -, e a partir deste lugar, transformar suas dores e desafios, cultivando um solo fértil de transformação, de novos caminhos e novas possibilidades de atuar e existir na vida e nas relações -, vejo verdadeiros “milagres” acontecendo.
Agora, te convido a refletir comigo:
Como você se percebe neste espaço de escuta? De verbalizar e honrar suas necessidades e dos outros, de se pacificar com as perspectivas de que existem vários lados distintos que podem conviver respeitosamente? Já pensou neste tema?
Um abraço e até breve!
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